Por uma nova cultura de convivência
Ligada à área de mediação de conflitos desde 2006, Mónica Nogueira Soares tem-se centrado na mediação familiar e escolar. A Revista Business Portugal foi conhecer melhor o trabalho que desenvolve em prol de uma nova cultura de convivência.
Como é que começou a trabalhar na área da mediação escolar?
Como trabalho numa escola no meu dia-a-dia percebi que fazia todo o sentido aplicar os princípios de mediação na escola, aos alunos para eles aprenderem a gerir os conflitos não apenas numa situação de mediação no gabinete mas aplicarem estes princípios nas relações diárias. Atualmente os miúdos são capazes de dizer tudo através das redes sociais ou com o recurso às mensagens do telemóvel e depois quando estão na escola cara-a-cara já disseram tudo e muitas vezes o que resta é a agressão física. É lamentável que quando chamava estes miúdos, porque a direção da escola recorria a mim para gerir estas situações percebia que nem conseguiam olhar olhos nos olhos do colega, nem eram capazes de justificar as atitudes que tinham ou conversar sobre a situação. Na minha opinião a mediação não é apenas uma estratégia de resolução de conflitos é uma forma de estar. Faz todo o sentido promover nas escolas os princípios de mediação como o respeito pelo outro, por mim próprio, o direito que tenho de sentir o que sinto e de exprimir o que sinto e de justificar perante o outro as minhas atitudes para que os mais jovens se sintam legítimos para resolver os seus próprios problemas. O trabalho que tenho vindo a desenvolver serve para promover esta cultura de convivência e de mediação nas escolas.
Essa forma de mediação nas escolas passa só por intervir apenas quando existe um problema ou existe algum trabalho prévio?
Temos as duas vertentes. Temos a mediação formal, um gabinete onde recorrem depois da situação já ter ocorrido, seja entre professores, entre alunos, entre professor-alunos, ou mesmo entre funcionários e temos ainda a mediação informal que passa por promover a cultura da mediação e os seus princípios a todos os agentes da comunidade escolar, isto é, professores, funcionários, técnicos, alunos, encarregados de educação. Esta vertente implica desenvolver ações de sensibilização, informação e formação com estes diferentes agentes de forma continua e sistemática.
Entende que esta é uma área importante que deveria ser mais trabalhada nas escolas?
Completamente embora ainda encontremos pouca recetividade por parte dos professores. Existe ainda muito a ideia de que o professor é a autoridade e o desconhecimento face à mediação dá a ideia que se me submeto a um processo de mediação estou a perder a minha autoridade, a descer na minha hierarquia e a pôr-me ao mesmo nível do aluno. Na mediação as partes têm o mesmo poder e os professores muitas vezes não conseguem perceber que é apenas uma situação momentânea e que nada tem a ver com a relação professor aluno que se mantém, independentemente do processo de mediação. Os docentes que já percebem a dinâmica da mediação e o que ela implica aderem muito mais facilmente e eles próprios vão adotando uma postura onde os princípios da mediação estão conseguindo resultados muito positivos ao nível da relação professor-aluno e da dinâmica da sala de aula.
Os pais também são envolvidos quando existem conflitos?
Em certa medida sim embora os pais não sejam trazidos para a mediação se estes não fizerem parte do conflitos.Os pais são informados de que os seus filhos vão iniciar um processo de mediação quando tal acontece e quaisquer dúvidas que possam ter são por mim esclarecidas. Também já organizei palestras sobre a mediação escolar para pais mas aí encontramos outro problema que é conseguir que os pais venham à escola “apenas” para uma sessão de informação.
Porque é que entende que em Portugal a mediação não é um recurso tão utilizado como em outros países e qual será o futuro desta área?
Em termos da mediação escolar se formos ao país vizinho observamos que a mediação escolar faz parte do sistema escolar, está decretada e existe um regulamento formal. Portugal ainda tem um sistema muito tradicional. Começamos agora a perceber que a mediação pode ser uma resposta mas ainda temos que trabalhar a forma de estar e toda a cultura que rege as escolas. Eu acredito que a mediação vai crescer em Portugal. Com a lei da mediação já demos um grande passo e é bom sentir que estamos a criar alicerces sustentados para a mediação mas enquanto não existir a divulgação necessária não me parece que esse crescimento será muito rápido.